quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quem dá mais?

A ideia do leilão é antiga. Entre os latinos, a auctio consistia em ir a público vender um bem, à espera de quem oferecesse o maior lance. A palavra latina remete ao verbo augere ("acrescentar", "ampliar"). No inglês, temos a expressão auction off, "leiloar".

Já o nosso termo "leilão" procede, não do latim, mas do árabe vulgar al-alám, com os significados de "estandarte", "tabuleta" e "aviso". Colocava-se em local público e visível uma pequena bandeira vermelha, por exemplo, como convite para participação no leilão. O leilão precisa ser anunciado em alto e bom som para que todos tenham alguma chance de adquirir o que foi colocado à venda.

Em francês, a palavra para leilão é enchère. Nasceu no latim tardio incariare, formado pela partícula in e por carus, "caro". Aquilo que está em leilão é algo que vai sair caro para quem o deseja adquirir. Em espanhol, leiloar é subastar. Vem do latim subhastare, "vender em hasta pública".

sábado, 2 de novembro de 2013

O silêncio do cemitério

Há uma diferença, do ponto de vista etimológico, entre necrópole e cemitério.

Ambas são palavras que vêm do grego, mas com inspirações contrárias. Necrópole é a "cidade dos mortos", de nekrós ("morto", "cadáver"), pólis ("cidade"). A Necrópole de Gizé, no Egito, é um dos maiores exemplos da antiga arquitetura a serviço de um projeto post-mortem.

Para esta cidade se dirigiam o rei-defunto, a rainha e os sacerdotes do reino. A morte é uma viagem sem volta, e o faraó se preparava para essa jornada com imensa preocupação. Após a morte, deveria continuar reinando, mas agora sobre os demais mortos.

 
Já o cemitério possui uma outra conotação. O elemento "-tério" é um pospositivo do grego que se refere ao local onde se realiza o que é expresso pelo antepositivo. O monastério é o lugar onde ficam os monges. O presbitério é o lugar onde ficam os anciãos (os presbíteros). E o cemitério é o lugar onde as pessoas dormem, porque o antepositivo do grego koimétêrion ("lugar para dormir") é o verbo koiman ("dormir").

A palavra começou a ser usada pelos primeiros cristãos, que viam na morte um momento de descanso. Os mortos vão dormir, na esperança de saírem do túmulo. Preparam-se para acordar, tal como Jesus ressuscitado. O cemitério é lugar passageiro, silencioso, um dormitório para uma noite mais ou menos longa: o novo dia está por vir.