sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E próspero ano-novo...

Desejamos a todos que o ano que vem seja próspero. Que possamos usufruir de circunstâncias favoráveis em várias dimensões da vida: família, saúde, emprego...

A palavra remete ao adjetivo latino prosper, "feliz", "que corre bem". E guarda, nas entreletras, um segredo. Ao analisar prosper, descobrimos que o prefixo pro está associado a spere, que por sua vez reporta a spes, "esperança".

Quando você desejar um próspero ano para alguém, lembre-se: a esperança é o que nos faz caminhar!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Presépio etimológico


Presépio no Conjunto Nacional (SP), dezembro de 2010.
Não há Natal sem presépio. A palavra "presépio" vem do latim praesepe, cujo significado básico é "estábulo", "curral", "redil". Está composta pelo prefixo prae = "diante", e do substantivo saepes = "lugar fechado" (e daí a nossa palavra "sebe").

Houve uma confusão conceitual entre o lugar onde os animais ficavam e o tabuleiro em que se depositava a comida para eles se alimentarem. Daí que presépio signifique o estábulo e, em ponto menor, a manjedoura. O texto bíblico admite essa dualidade.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Onde você vai passar o Réveillon?

Estamos próximos de 2011, e já se ouve a pergunta típica: "onde você vai passar o Réveillon?".

Ainda não se criou em nosso idioma termo específico para designar os festejos em preparação para a chegada do Ano-Novo. E a palavra francesa também não foi plenamente aportuguesada. A pergunta equivalente "onde você vai passar o Ano-Novo?" convive com a outra em igualdade de condições.

É que "réveillon" (muitos já escrevem "reveillon", sem acento) está bem arraigado entre nós. Talvez daqui a algumas décadas a grafia se torne "reveiom" (a exemplo de "creiom" a partir do francês crayon)...
Até lá... qual a origem de "réveillon"?

Do francês réveiller, "acordar". A tradição era a família ficar acordada na passagem para o novo ano, mas sobretudo na noite de Natal, em espírito de vigília e oração. O Réveillon de Noël — a ceia de Natal, entre familiares e amigos — era até mais importante do que o do dia 31 de dezembro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Receita de panetone

Uma lenda, com várias versões, sobre a receita do panetone...

Na Idade Média, em Milão, havia um pobre ajudante de padeiro chamado Toni. Jovem ainda, trabalhava horas a fio para sustentar a família e cuidar de sua mãe, viúva e doente. Passava noites em claro produzindo pães e durante o dia se desdobrava como filho zeloso e irmão mais velho de três crianças.

Às vésperas do Natal, seu patrão lhe encomendou, além dos pães, uma torta para a festa que se aproximava. Um cliente muito importante tinha feito o pedido. Exausto, porém, Toni se atrapalhou e acabou derrubando na vasilha onde descansava a massa do pão as uvas passas que estavam destinadas para a torta. Em desespero, jogou na massa já estragada as frutas cristalizadas, a manteiga, os ovos e outros ingredientes que seriam usados para a torta. Assou a mistura e voltou para a casa. Estava certo de que depois do Natal seria demitido.
Na manhã seguinte, contudo, ao chegar ao trabalho, Toni foi surpreendido por um abraço do patrão que vinha felicitá-lo pelo maravilhoso pão que, em lugar da torta, dera um brilho único à festa de Natal do cliente:

— Não sei que receita você criou, mas a partir de hoje vamos chamar este pão de pane di Toni!

Nascia o panettone. E o padeiro convidou o rapaz para ser seu sócio. E meses depois Toni se casou com a bela filha do padeiro. E a mãe de Toni ficou curada e, conversa vai, conversa vem... se casou com o padeiro, que também era viúvo. E todos viveram felizes para sempre!
A história é ótima, mas entra no capítulo da etimologia popular. A palavra "panetone" provavelmente veio do milanês panattón, aumentativo de pan, significando "pão grande", "pão de luxo", em virtude dos ingredientes que o enriquecem.
Deonísio da Silva, em seu livro A vida íntima das palavras, refere-se à expressão pane tonico, um "pão fortificante".

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A onda da abundância

A etimologia provoca surpresas. O que estava coberto é des... coberto. Quem imaginaria que "abundância" tem alguma relação com a palavra "onda"? Pois tem!

No latim, abundare significava "transbordar". E estava formado pelo prefixo ab ("fora") e pelo verbo undare ("fluir", "ondular"), que por sua vez remete a unda ("onda"). As águas ondulam e transbordam em abundância...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A etimologia do malandro

Há dúvidas sobre a origem da palavra "malandro", o que não causa estranheza, porque malandro tem lábia, é maroto, não se deixa pegar tão facilmente.

Uma hipótese para significar o sujeito de comportamento duvidoso é a de que a palavra vem de um casamento estranho entre o latim malus ("mau", "errado") e o provençal landrin ("preguiçoso", "vagabundo").

Outra possibilidade tem a ver com Dom Quixote. No livro de Cervantes (século XVII), aparece a palavra malandrín, com o sentido de "patife". Teria vindo do italiano malandrino, significando, na origem, quem era vítima de uma espécie de lepra, denonimada em latim vulgar *malandria. Esta palavra, por sua vez, remete ao grego mélas ("negro"), por causa da cor escura da pele do leproso. Na Itália, os ladrões acabariam sendo chamados assim também. O motivo da ligação estaria em que ambos não trabalham, mas os ladrões recorrem ao roubo e não à mendicância.

Antenor Nascentes registra uma outra ideia, defendida por João Ribeiro. A palavra teria a ver com "malandra", ferida ou sarna que ataca as juntas internas dos joelhos dos cavalos e outras cavalgaduras. Provindo do francês malandre (séculos XV-XVI). Esta sarna atrapalha o andar dos animais. E este "mal andar", teria a ver com a malandragem, a vagabundagem, o andar por aí, de mau jeito.
No Brasil, a palavra "malandro" ganhou conotação menos agressiva. O malandro carioca, por exemplo, é o esperto. Lança mão de vários expedientes para sobreviver, com um toque de graça, irreverência e sensualidade.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

WikiLeaks, vazamentos que esvaziam

A palavra "vazamento" tem ligações perigosas com o vazio. No latim, vacivus é o que está desprovido. Na Idade Média, tínhamos um provável *vaziar. Que será o nosso "esvaziar".

Os vazamentos assustam, sobretudo quando se trata de algo que pode encher a humanidade de vergonha... Algo que não deveria circular por aí, mas que, ao circular, esclarece muita coisa!

Quando algo assim vaza... surge o vazio. Desde sempre sabemos — o ser humano tem medo do vazio. Mas para algum lugar vai aquilo que vazou. Há uma troca, vamos dizer assim. Se eu estava vazio de informações, agora estou repleto. O que antes era cheio, agora está cheio de nada...

WikiLeaks é uma organização que rompe muros e paredes, promove vazamentos espetaculares de documentos, vídeos, segredos. No inglês, a palavra leak remete ao germânico lechzen ("ressecar", "produzir sede"). O sentido de "tornar conhecido algo sigiloso" data do início do século XIX.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A vez das fezes

De onde vem a palavra "fezes"?, perguntou um leitor deste blog.

Certa vez um professor me afirmou, abusando da ironia, que "fezes" vinha do verbo latino facere, "fazer". Defecar seria o fazer mais próprio do humano...

Provém, sim, do latim, mas do substantivo faex, que designava a borra do vinho (depositada nos recipientes após a fermentação), e o resíduo que se separa dos metais durante a fusão.
Por extensão, passou a indicar o desprezível, o impuro, o asqueroso. Os excrementos foram incluídos neste rol.

Daí também a antiga expressão pejorativa populi faex, com que os romanos "superiores" indicavam a escória da sociedade.

Quando alguém diz com grosseria que um filme é uma merda, ou que alguém é um bosta, retoma essa ideia: o filme não presta, aquela pessoa é detestável, repugnante.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A inveja não vê

Um leitor quer saber a origem etimológica de "inveja".

No latim, invidia relaciona-se com a noção de "ver" (videre). O prefixo in associado à visão invejosa, que não desgruda dos bens alheios, mostra o quanto há de recusa e de ódio nesse olhar.

Não é à toa que se fala em "olho gordo", porque doentes e deformados estão os olhos de quem não se admira positivamente com o que dá alegria aos outros.

Dante, na Divina comédia, apresenta os invejosos no Purgatório, com os olhos costurados. Quem, durante a vida, não soube apreciar o bom e o belo com abertura de coração, depois da morte não conseguirá enxergar nada.